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04/02/12 Sáb 9h29
Entrevista do diretor da Pioneer Sementes, Francisco Sampaio, à revista A GRANJA: mercado do milho

 

  • O preço atual do milho é raro. Baixou um pouco em relação há algumas semanas, mas segue histórico e remunerador. A seu ver, isso continuará incentivando os produtores?

R – Exatamente. No último trimestre de 2011 tivemos uma pequena redução dos preços em função da crise econômica mundial e da conclusão da colheita americana, mas os patamares continuam superiores ao histórico. Vale lembrar que foi em 2007, a primeira vez na história de CBOT, que o milho atingiu US$ 4,0 o bushel, e de lá para cá, jamais retornou a patamares inferiores, e que de 1970 a 2005, esta média foi de US$ 2,30 o bushel. Hoje estamos com cotações de US$ 6,4 para março de 2012, e com perspectivas de sustentação em função da iminente quebra na América do Sul e aumento no consumo mundial. Com certeza estes indicadores motivam o produtor a plantar milho, principalmente porque o milho brasileiro não depende mais unicamente do mercado interno.

  • Há aumento de área. O milho chegou a tirar lugar de soja e algodão no Mato Grosso. Esta tendência se manterá?

R – Segundo o relatório da CONAB de dezembro de 2011, tivemos aumento de 10% na área de verão 2011/2012. Para 2012 ainda não sabemos ao certo porque temos muitas variáveis envolvidas, mas acreditamos que a área continue estável ou apresente pequeno crescimento para o ciclo de verão 2012/2013, visto que os bons preços combinados com  a evolução de produtividade faz do milho uma cultura altamente remuneradora. A tendência é de aumento de área na safrinha 2012, mas este crescimento poderá ser limitado pela disponibilidade de sementes híbridas de alta tecnologia, limitação essa que ocorreu em função da alta demanda de 2011 e que se estendeu para a safrinha 2012. Mas mesmo assim, o MT deverá plantar a área recorde de 2,2 Mi/Há superando o recorde anterior de 1,95 Mi/Há em 2010. A área de soja cresceu aproximadamente 9,0%, se aproximando dos 7,0 Milhões de Hectares no ciclo 2011/2012, assim a safrinha deverá ser plantada em cima de mais de 30% da área de soja do Mato Grosso. O milho não concorre com a soja no MT e o algodão tem seu mercado firme com contratos futuros definidos em sua grande maioria.

  • O mercado interno está aquecido, especialmente pelo consumo de carnes. As entidades do setor confirmam esta tendência.

R – Realmente o consumo interno de milho tem sido crescente, puxado principalmente pelo complexo de carnes, setor que representa aproximadamente 75% do consumo interno. Tanto isso é verdade que o mercado externo tem pago prêmio pelo milho brasileiro para que haja paridade de exportação. Para o setor de carnes, dependeremos mais do mercado interno, pois com o aumento do salário mínimo acima da inflação, o consumo de frango deve continuar favorecido em função de ser a proteína mais barata, o que também minimiza a dependência do comportamento econômico da Europa e do Japão, dois grandes importadores. Vale destacar que em 2011 o Brasil atingiu um consumo per capita de 47,4 Kgs de carne de frango, superando os EUA, que consumiram 44 Kgs per capita no mesmo período. Desta forma, a produção interna atingiu o recorde de 13,058 milhões de toneladas, representando um incremento de 6,8% com relação a 2010. Para carne suína brasileira, começamos 2012 com boas notícias, principalmente porque os EUA, através do FSI – Food Safety and  Inspection,  divulgaram a abertura para importação da carne suína brasileira e fechamos 2011 tendo Hong Kong como principal país de destino, deixando a Rússia em segundo lugar e Ucrânia em terceiro, minimizando os efeitos do indesejável embargo russo. Da China vem outra grande notícia para o setor, é que no final de 2011 algumas unidades de frigoríficos brasileiros fizeram as primeiras exportações para aquele país, assim a China, que representou 48,9% da produção mundial, pode aparecer como importante importador da carne suína brasileira. Isso será muito importante para a suinocultura brasileira, pois em 2011 o setor não apresentou bom desempenho, levando muitos criadores a desistirem da atividade. Portanto, temos aspectos fundamentais que dão sustentação aos preços do milho para 2012.

  • O senhor concorda que as exportações prometem, em razão baixa dos estoques de passagem mundiais

R – Concordo plenamente. Segundo o USDA, terminamos 2011 com um estoque mundial de 127,2 milhões de toneladas para um consumo total de 868,8 milhões de toneladas. Mas o dado mais importante é a relação estoque/consumo, indicador que mostra qual o percentual da demanda total pode ser atendida pelo estoque disponível, onde este índice  ficou em 14,6% contra uma média histórica de 24,0%. Como curiosidade, a China tinha no ano de 2.000, aproximadamente este mesmo estoque que hoje encontramos no mundo. Nos EUA, estes indicadores são ainda mais impactantes, pois em 2011 esta relação ficou em 6,7% contra uma média histórica de 22,7%, sendo que assim os EUA terminaram o ano com um estoque de aproximadamente 22 milhões de toneladas, consumo puxado, principalmente, pela produção de etanol que já supera a demanda de milho para produção de ração. Estes dados mostram claramente dois pontos importantes:

  • Os preços do milho estão sustentados em aspectos fundamentais de oferta e demanda, fato difícil de ser corrigido num curto prazo;
  • Quando temos estoques apertados, os preços ficam mais voláteis, fato que deve ser agravado com a situação climática desfavorável na América do Sul;
  • Que influência terá o clima sobre todo o relatado acima?

R – A América do Sul está enfrentando um grande desafio climático no ciclo 2011/2012, onde as culturas do milho e da soja estão sendo fortemente afetadas. No caso do milho, ainda é difícil prever qual o percentual real de perdas, mas já identificamos lavouras no RS e em SC com 100% de perdas. A soja também não tem sido diferente, pois no Oeste do PR as primeiras sojas já colhidas estão apresentando péssimo desempenho, obviamente que o impacto do clima é maior nas lavouras de menor tecnologia e manejo inferior. O Brasil está enfrentando adversidades climáticas em praticamente todas as regiões do País, e afetando de diferentes formas a produção agrícola, seja por escassez ou excesso de chuvas. Mesmo assim a CONAB mantém uma previsão de safra elevada. Na Argentina, a situação também é bastante adversa, onde as chuvas estão ocorrendo de forma muito irregular e sem previsão de normalidade, o que deve comprometer em muito a produtividade para uma área total semeada estimada em 3,74 milhões de hectares. Portanto, a expectativa de aumento de produção de milho por conta do aumento de área ocorrido na safra verão 2011/2012 não deve se concretizar na mesma proporção, trazendo ainda mais volatilidade de preços ao mercado e preocupando muito a indústria de carnes. A indústria de sementes torce sempre pelo equilíbrio da cadeia, pois é isso que gera sustentabilidade para todos.

  • Na sua avaliação, o que atravanca o desenvolvimento desta cultura no Brasil?

    R – Podemos mudar o tempo do verbo! Atravancava! Hoje a cultura do milho vive outro cenário, tanto de

 

tecnologia quanto de circunstâncias mercadológicas, e assim, sua percepção de valor mudou muito nos últimos anos. Deixou de ser coadjuvante e já ocupa o papel principal em muitas regiões agrícolas importantes do país.
O mercado de milho no Brasil foi durante muito tempo, um mercado instável e inseguro do ponto de vista de remuneração. Por muitos anos acompanhamos a famosa e desafiadora curva “M”, onde os preços variavam de acordo com a relação oferta e demanda, e até 2000 o Brasil não exportava, dependendo única e exclusivamente, do mercado interno. A cadeia não era organizada. Plantava-se milho por aspectos técnicos de rotação de culturas ou por situações muito pontuais de oportunidade. A cultura fazia o papel de coadjuvante da soja. O tempo passou e tanto a cultura quanto a cadeia evoluíram, mesmo que em níveis diferentes. Para ilustrar o que estamos falando, há 27 anos a safrinha representava aproximadamente 2% da oferta total do milho produzido no Brasil, hoje representa 40%.  A evolução genética, o melhor manejo e a introdução da Biotecnologia promoveram um fantástico incremento de produtividade, tanto que na safrinha do MT, a evolução foi superior a 200% nos últimos 12 anos. Na última safra de verão, o Brasil bateu recorde de produtividade onde, como exemplo, o PR atingiu uma produtividade de quase 8.0 tons por hectare para uma área de 768 mil hectares, segundo os dados da CONAB.
Do ponto de vista de mercado, nos tornamos o terceiro maior exportador mundial de milho e não ficamos mais “reféns” do mercado interno. Isso foi fundamental, pois com a evolução da safrinha, deixamos de ter entressafra e precisávamos escoar o excedente. Para ilustrar, até dezembro de 2011, cerca de 47% da produção estimada para safrinha 2012 do MT já estava comercializada antecipadamente. Isso mostra que a cadeia está mais organizada, e o milho brasileiro passou a ter maior importância no cenário mundial, e por outro lado também a maturidade do produtor brasileiro em trabalhar conceito de margem e se proteger das inevitáveis flutuações de mercado.
Do ponto de vista de evolução genética, o milho foi a cultura que mais cresceu no Brasil, onde hoje encontramos diversos produtores alcançando 12 tons/Há ou mais, isso em condições de sequeiro. E a chegada da Biotecnologia trouxe maior proteção às plantas e aumento do número de espigas viáveis, consolidando a semente de milho como o maior veículo de tecnologia. Mudaram-se assim os patamares de produtividade, reduzindo a diferença entre os limites de alta e de baixa, pois as lavouras mais protegidas e melhor manejadas minimizam o efeito do ambiente em condições desfavoráveis e potencializam a produtividade sob condições favoráveis. Portanto, esta combinação de altos rendimentos, facilidade de manejo e altos preços, transformaram o milho numa cultura economicamente viável, tendo como ponto desfavorável o alto desembolso para estabelecimento da lavoura. Um ponto que limita um maior crescimento do agronegócio brasileiro é a infraestrutura deficitária, pois ainda somos “reféns” do transporte rodoviário feito em rodovias mal conservadas e de longas distâncias. Obviamente que isso impacta mais no milho porque são grandes volumes por área colhida. Mas é um desafio de toda a cadeia produtiva.

  • Qual a importância que o senhor atribui ao aumento da área de milho geneticamente modificado?

R – A primeira safra de milho que plantamos com OGMs foi 2007/2008, e de lá para cá, o Brasil se consolidou como o país que adotou a biotecnologia com maior velocidade, tanto que hoje se estima que cerca de 80% do milho plantado no Brasil seja geneticamente modificado. Com base nos dados oficiais da CONAB, comparamos a produtividade média dos últimos 04 anos, período que sucedeu a introdução da biotecnologia com os 04 anos que antecederam, e assim chegamos a números interessantes, mostrando uma evolução de 24% na produtividade do Brasil, 49% para o RS, 37% para SC e 23% para o PR. Podemos afirmar que os estados com menores módulos rurais foram os estados com maior incremento, pois o controle de insetos se tornou bem mais eficiente, com enormes benefícios, principalmente, para os agricultores.
Agora já estamos na era dos traits combinados, com proteção contra lagartas e tolerância a herbicidas inseridos na mesma planta. Esta, associada à adoção de novas práticas de manejo, nos trará um novo patamar de produtividade. E o processo não pára, em breve teremos traits para tolerância a seca que virão combinados com os atuais.

  • Como anda o nível tecnológico desta cultura no Brasil? Isso se considerarmos que nossa produtividade média é baixa (atrás até da Sérvia), mas principalmente em relação aos americanos.

R – Conforme abordado nas questões anteriores, o Brasil evoluiu muito em termos de produtividade. Aqui quero destacar o papel do produtor brasileiro que é incansável na busca pela informação e pelo serviço de qualidade, exigindo cada vez mais evolução da indústria. O Brasil não tem a mesma fertilidade natural da Argentina nem dos EUA, temos latossolos em grandes extensões, que são solos originalmente ácidos e de baixa CTC (Capacidade de Troca de Cátions), foi por isso que aprendemos a dominar o Plantio Direto e a adotar práticas evoluídas de manejo. Hoje somos o quarto maior consumidor de fertilizantes do mundo, enquanto a Argentina ocupa a 25ª posição, segundo o IFA de 2009. Portanto, temos baixa produtividade quando olhamos a média brasileira que contempla a agricultura de subsistência com plantio de variedades e regiões de baixa vocação, mas quando olhamos para os principais polos agrícolas, encontramos produtores com produtividades superiores a 14 toneladas por hectare, não deixando nada a desejar com relação aos americanos ou argentinos. Sem contar a safrinha plantada sob condições adversas de clima, que reduz esta média nacional, mas que vem evoluindo a passos largos com o planejamento profissional do agricultor que tem explorado de forma inteligente toda esta evolução tecnológica do agronegócio.

  • Tratando diretamente da Pioneer, gostaria de dados de vendas, aumento de negócios, perspectivas, etc...

R – Nós temos crescido muito nos últimos anos, e em 2011 crescemos ao redor de 45% com as nossas operações de milho e 40% na soja. O Brasil já é a segunda maior operação da Pioneer em todo o mundo, equivalendo a 90% do faturamento da Europa. Nos últimos 10 anos, investimos um valor superior a US$ 200,00 milhões no Brasil, principalmente em pesquisa, produção, além da contratação de um número grande de profissionais em todas as áreas de atuação. Todos estes investimentos com o objetivo de manter nossa posição de liderança no mercado de sementes de milho e alcançar em breve a liderança também no mercado de sementes de soja. Acreditamos muito no Brasil, admiramos o agronegócio do nosso país e ficamos felizes em saber que ele conquistou a 6ª posição no ranking das potências econômicas, deixando para trás países como Itália, Inglaterra, Rússia e tantos outros. Isso nos orgulha muito e aumenta nosso compromisso com o agronegócio brasileiro.

 

Fonte Revista A Granja
Sugestão: Márcio Genciano