Anúncios Google
26/03/19 Terça-feira
Meio século  
Professora Roni relata e agradece pelos 50 anos de Mamborê
A professora Roni Amelia Ianik Tiburcio chegou no município e pequena cidade de Mamborê no dia 26 de março de 1969, portanto, há exatamente 50 anos. Ela nasceu em Fluviópolis, município de São Mateus do Sul (PR), em 29 de dezembro de 1949, portanto, tem 69 anos de idade. Casou-se em 1972, com Argemiro Tiburcio (falecido em outubro de 2013) com quem teve os filhos: Aislan Miguel, Michelle Lara e Marla Ronise. Ela tem 4 netos: Ana Laura, Aisha, Thaila e Lian Miguel.

Ela encaminhou o texto, abaixo, relatando essa experiência e demonstrando o seu contentamento pela terra e gente que a acolheu.

 

  Professora Roni com...
18 anos de idade Atual
Na Ponta do Lápis...
Do Fundo do Coração

“Há lugares que são para a gente. E há ‘gentes’ que são para os lugares”. Acreditando nisso e na providência Divina aqui estou, nesta “terra cheia de vida”, há 50 anos.

Relato um pouco sobre minha vida: nasci e cresci no pequeno Patrimônio de Fluviópolis – São Mateus do Sul – PR. A quinta filha de uma família de sete irmãos. Ainda pequena, enquanto ajudava minha mãe na horta plantando vagens, muito acanhada, disse-lhe da vontade que nutria em ser Professora. Neste momento os anjos disseram Amém!

Minha mãe mais que depressa falou com meu pai. Meu dziadek (Avô paterno) que na época morava conosco, e prezava pela educação disse ao meu pai, que fizesse o possível e o impossível para que aquilo se realizasse. Embora dono de poucos recursos, era um homem culto, um homem vindo da Polônia já com parte da família, que incentivava-nos a  estudar. Visto que a divulgação de revistas e jornais era difícil naquela época, mesmo assim ele assinava um periódico LUD que chegava até as suas mãos pelos Correios vindo de Curitiba, levando-nos a desenvolver o  gosto pela leitura. Meu pai então conversou com meus tios Francisco e Helena Brongiel (ela irmã do meu pai) que residiam na cidade de São Mateus, onde eu poderia começar a longa jornada para ser Professora.

Meus tios, após o pedido de meus pais, me receberam em sua casa, faço aqui um parênteses para agradecer com muito amor e gratidão esta família que me acolheu. Em especial meus primos, os quais por sete anos me trataram como irmã, me dando seu amor, me orientando, partilhando a vida e seus pais comigo e sendo exemplos para mim; são eles: Ervino, Edite, João, Danuta, Amélia e Zuleime. Esta última, minha companheirinha de todas as horas, fazíamos tudo em comum. Dormíamos no mesmo quarto, estudávamos na mesma série, nas mesmas escolas, dividíamos nosso tempo entre deliciosas conversas, afazeres, diversões e muitos segredos.

Para ingressar no Ginásio, tive que fazer um Vestibular e para isto meus pais com muito sacrifício, pagaram aulas particulares com a Dona Iolanda. Por ser ainda muito pequena, e morando no Sítio, pouco conhecia a cidade, na primeira vez que fui à aula particular, minha mãe me levou e me orientou que tivesse sempre em vista a torre da Igreja, para que conseguisse me localizar, e não me perder no caminho.

Fui aprovada no vestibular e iniciei o primeiro ano em 1961 no Ginásio Estadual Duque de Caxias. Depois de terminar o Ginásio, fui para a tão sonhada Escola Normal Colegial Haydée Carneiro, onde concluí em 1967. No mesmo prédio funcionava o Grupo Escolar Dr. Paulo Fortes, e eu adorava quando a direção pedia se algum aluno podia vir no período da tarde auxiliar e/ou substituir professores de primeira a quarta séries.

Foi Deus que me esculpiu e agora me modela com suas mãos generosas: aquela menina da Colônia transformada em uma Professora Normalista. Orgulho para os seus.

Não menos orgulhosa ficou minha família, quando alguns anos depois minha irmã Adélia Lúcia tornou-se professora (hoje também aposentada), dedicando sua vida pela educação do Município de São Mateus do Sul, por muitos anos, com muita responsabilidade e galhardia.

Além de nossa vocação, tivemos uma escola de amor pela Escola. Nossa irmã mais velha Rosina Arlete, também professora deixou-nos este lindo legado.

Iniciei a carreira de magistério em 1968, na minha pequena Vila Fluviópolis, onde nasci, cresci e aprendi o respeito e o amor ao próximo, bem como o amor a DEUS. Encantada pela Educação, realizada em ser Professora, não media esforços para mostrar aos alunos que também seus sonhos seriam possíveis.

Trabalhava em uma sala com a média de 30 alunos, em uma classe multisseriada tendo ainda, que limpar a sala e fazer a merenda dos alunos, coisa que era normal para a época, não me assustei; com isto meu amor pela profissão só cresceu.

No ano de 1969, um novo Prefeito, Sr. Tadeu Soboszinski, me transferiu para o Patrimônio de Mico-Magro, no outro extremo do Município. Minha família ficou aborrecida, mas eu na ânsia em trabalhar e apaixonada em ser Professora, lá me fui.

Mico-magro, um lugar tranquilo, de gente simples, amável e acolhedora. O Sr. João e a Sra. Felicidade dispuseram sua casa para que ali eu morasse sem nenhum custo para mim, felizes com a chegada da nova Professora, pois os alunos lá, pereciam sem professor. Para ir trabalhar no Patrimônio tinha que tomar um ônibus da minha casa até a cidade, dali outro até uma encruzilhada onde os pais dos alunos, de carroça, me transportavam por 8 quilômetros até a escola.   

O meio de comunicação mais usado na ocasião era a carta. Utilizando-me deste recurso escrevi para meu irmão Evilázio que morava num “lugar distante” – Mamborê, que eu nem sequer sonhava conhecer. Ele, condoído pela situação, juntamente com meus primos Edite e Alceu Kloster com quem ele morava, resolveram minha vida.

Meu irmão foi até a casa dos meus pais onde conversaram e decidiram que seria bom eu vir para esta “Terra cheia de vida, terra coberta de amor”.

Era o dia 25 de março do ano de 1969 quando saí de São Mateus do Sul (terra de barro branco fundada em 1908, já contava com algumas modernidades), com destino a Mamborê, aqui chegando no dia 26. Amedrontada com o que me esperava e impressionada com o primeiro contato que tive da cidade, de terra vermelha, pois ao chegar as casas apresentavam-se em uma nuvem de poeira, sem um metro de asfalto, sem telefone, com energia elétrica recém chegada. Me vem à memória do entardecer, quando o Sr. Armênio Coelho da Costa, uma das primeiras pessoas que eu conheci aqui, fazia ecoar a música Toque de Silêncio, num alto-falante que me emociona deveras, ainda hoje.

 


Já nos primeiros dias aqui chegado, fui acolhida pelos que aqui moravam e conhecendo melhor a cidade que nascia/crescia, pude sentir que aqui “é meu lugar”.

Na semana seguinte contratada pelo então Prefeito Sr. João Szesz, com o aval da Sra. Ione Malmstron Martins, Secretária de Educação Municipal, já assumi com orgulho meu posto como Professora do segundo ano, do Grupo Escolar João XXIII cuja diretora era a Sra. Emília Martins Cruz e a Secretária Rosária Fabri Risnei.

As pessoas acima citadas, juntamente com os professores que ali trabalhavam me acolheram como companheira de batalha, para juntos construirmos uma educação cada dia melhor. Dentre tantos outros lembro aqui alguns dos primeiros alunos que tive em Mamborê: Daniel Queiroz, Antonia Campanharo, Nelson e Nelci Bueno... Lembro-me também de alguns colegas desta época: Elizete Chiminácio; Terezinha dos Santos Vieira; Maria Ternoski Canali; Elisemari Chiminácio; Maria Helena dos Santos; Adair Moysa, Adelaide Szlachetka, Jurema Ciconello Lins, Dorvina Pinheiro, Maria Pinheiro Ayriche... Neste mesmo ano fui chamada a lecionar também no Ginásio Estadual de Mamborê, onde muitos dos meus alunos tinham a minha idade ou mais, pois recém havia sido criado o Ginásio.

Não posso deixar de relatar, que “passei” por diversas gerações de uma mesma família, pois fui professora de avós, pais, filhos e netos.

Nestes quarenta anos dedicados a Educação nesta Terra abençoada fiz um pouco de tudo: Professora regente de classe (primeira a quarta séries); Professora de Língua Portuguesa e Língua Inglesa (Primeiro e segundo graus); Secretária do Colégio Paulino Ferreira Messias; Diretora do Colégio Estadual João XXIII do ano de 1981 a 1985; Secretária Municipal de Educação 1993 – 1996; ainda Escola Municipal Santa Maria e Escola Nossa Senhora de Fátima;  ministrei cursos aos professores em diversas ocasiões. Vale citar que trabalhei também na Escola Estadual Marechal Rondon, Campo Mourão e Colégio Agrícola de Campo Mourão.

Durante estes anos, em que me dediquei à educação, não só ensinei como também aprendi muito. Tenho comigo e passo como lição aos meus colegas professores: “respeitem o aluno de hoje que, como você, será um profissional amanhã”. Ganhei amigos que por aqui passaram, alguns se foram mas permanecem em minha memória, e outros ainda carrego comigo seja nos ensinamentos que me transferiram, ou em meu coração.

Nesse interim conheci meu amado, pai dos meus filhos, meu companheiro por quarenta e um anos, que como num conto de fadas foi amor à primeira vista, pois aqui cheguei em março e em maio já estávamos namorando. Casamos em 1972 e formamos uma linda família: Michelle Lara mãe da Ana Laura; Aislan Miguel e Talita pais de Aisha, Thaila e Lian Miguel; e Marla Ronise. Mais um motivo para amar de paixão esta Terra que deu-me tudo de mais precioso. Claro, isso não seria possível sem o amor e o companheirismo do meu saudoso Miro.  

Mesmo com tanta dificuldade, em conciliar, casa, trabalho, filhos e marido, no ano de 1984, iniciei minha Graduação Na FACILCAM (Faculdade de Ciências e Letras de Campo Mourão), tendo concluído em 1987, o curso de Letras (talvez influenciada pela Professora Lindamir Kamisnki, da Escola Normal); o que alavancou minha profissão.

Nos anos de 1970 e 1986 fui aprovada em Concurso Público Estadual, onde com muito orgulho, lecionei por 42 anos, e ainda hoje, sinto falta e saudades do cheiro da Escola.

Sou imensamente grata aos meus sogros Theodomiro e Catarina  e a toda família Tiburcio.  Sou igualmente grata as famílias do Sr. Francisco e Dona Rosália Kloster; Sr. Elizeu e Dona Natália Kloster, que me receberam como se eu fosse um membro da família. Em especial meu querido compadre Alceu Kloster e minha saudosa prima Edite Ivone que abriram as portas e o coração me dando abrigo, carinho, orientação e por que não falar... amor.

Meu saudoso irmão Evilázio Elói Janik que juntamente com a Edite e meus pais Laura e Zygmund foram os mentores da minha vinda e mais tarde também a minha cunhada Ivone com quem pude contar sempre.

Demonstro aqui meu reconhecimento a todos os meus. Ressalto aqui meu orgulho por vocês meus sobrinhos, que assim como eu, amam a Educação, Deus os abençoe sempre: Lausimar, Kelli, Evilaine, Jamille, Gustavo, Angélica e Gilsamara, esta última como digo sempre: “se fosse minha filha não seria tão parecida”, dedica-se de corpo e alma para que o Colégio Estadual João XXIII, que tanto me deu, seja um lugar onde o amor transborde.

Para sermos felizes não é necessário muito. É dedicar-se com amor ao que escolhemos fazer, respeitar o próximo; ser agradecidos a Deus pelo sua grande misericórdia e generosidade. É fazer de toda e qualquer situação um aprendizado para que a vida se torne melhor a cada dia.

Professora Roni Amelia Ianik Tiburcio

Mamborê, 25 de março de 2019