1. Com surpresa fui informado que no próximo dia 28 de fevereiro, às 20h (horário de Roma), o Santo Padre Bento XVI renunciará ao pontificado. O anúncio foi feito pelo próprio Pontífice no consistório de cardeais convocado para tratar de três novas canonizações que deverão ocorrer ainda este ano. Discursando em latim aos cardeais reunidos, Bento XVI aludiu à idade avançada e fragilidade física como obstáculos ao adequado exercício do ministério petrino. Para citar as palavras do Papa: “No mundo de hoje, sujeito a mudanças tão rápidas e abalado por questões de profunda relevância para a vida da fé, para governar a barca de São Pedro e proclamar o Evangelho, é necessário tanto força da mente como do corpo, o que, nos últimos meses, se deteriorou em mim numa extensão em que eu tenho de reconhecer minha incapacidade de adequadamente cumprir o ministério a mim confiado”.

2. A renúncia de Bento XVI não é fato inédito na história da Igreja e está de acordo com o cân. 332 §2 do Código de Direito Canônico. De fato, seus antecessores: Ponciano (235), Celestino V (1294) e Gregório XII (1415), renunciaram ao pontificado em circunstâncias históricas particulares, tendo em vista as necessidades da Igreja Católica em sua época. Passados 598 anos desde a demissão de Gregório XII, Bento XVI anuncia ao mundo católico sua decisão de deixar o papado. Tais acontecimentos, contemplados à luz da fé, revelam os diversos caminhos pelos quais o Senhor Deus conduz a história. Traduzem, ao mesmo tempo, a sensibilidade humana diante das limitações e possibilidades constitutivas de cada pessoa.

3. Caríssimos diocesanos, como vosso bispo e irmão de caminhada rumo a Deus, encorajo-vos a compreender a atitude do Santo Padre em espírito dócil e filial. Olhemos para ele com o carinho e admiração devidos àquele que, mediante a vida, palavra e exemplo nos aproximou do amor de Deus. Seu ensinamento permanece válido, pois alicerçado na verdade inabalável do Mistério de Deus. Rezemos fervorosamente por sua vida, a fim de que Jesus Cristo, o Pastor Supremo da Igreja, o conserve perpetuamente sob a luz da graça divina.

4. Conforme o pronunciamento do Papa Bento XVI, a partir das 20h do dia 28 de fevereiro de 2013 a Sé Romana estará vacante. Deste modo, peço-vos preces em favor dos cardeais que se reunirão em conclave para a eleição do novo Vigário de Cristo. Supliquemos a assistência do Espírito Santo, força vital da Igreja, para que a escolha seja feita segundo sua divina inspiração. Que o eleito seja forte na missão universal, supere as adversidades postas pela conjuntura histórica contemporânea, ouça com piedade, guarde santamente e exponha com fidelidade o depósito da fé (Dei Verbum, 10).

5. Deixemo-nos guiar pelo amor de Deus agindo na história da Igreja e de cada cristão em particular. Os fatos da vida eclesial devem favorecer o crescimento da nossa fé na última promessa feita por Jesus aos apóstolos antes da ascensão: “E eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos!” (Mt 28,20). Apoiados nessa palavra do Senhor transformemos os dias de espera em oportunidade de contato com Deus através da oração, da fé e da esperança que não decepciona (Rm 5,5).

Sob a intercessão da Santíssima Virgem Maria e de São José, rogo sobre todos vós a bênção de Deus em abundância!

Campo Mourão, 11 de fevereiro de 2013.

Dom Francisco Javier Delvalle Paredes
Bispo da diocese de Campo Mourão, PR